sexta-feira, 11 de março de 2011

Inesperadas Amizades

Num sábado ensolarado de primavera, eu mais uma vez me dirigia a casa da minha avó. Chegando lá, cumprimentei-a e perguntei se ela precisava de algo antes que eu começasse a ler.
Ela sem hesitar respondeu:


"Termine o nosso livro e depois faremos qualquer outra coisa menos importante."


Enquanto eu lia atenciosamente o final da história, reparei em uma lágrima, única e sincera escorrendo pelo seu olho.
Foi aí que pela primeira vez em anos, percebi que eu mantinha a minha avó viva. Percebi que em todo sábado que eu ia até sua casa, fazia ela participar da experiência incrível de poder entrar em um mundo extraordinário, a cada livro lido, a cada história terminada.



Apesar da cegueira ter tomado conta dela, impedindo-a de enxergar fisicamente, ela sempre conhecia novos cenários e tinha as mais vivas lembranças dos detalhes de cada lugar, onde se passavam aquelas histórias dos ótimos livros da minha amada Mary Emily.




Minha avó sempre me contou muito sobre sua juventude, que fora passada toda ao lado de sua melhor amiga Mary.
Depois de ouvir muito as mirabolantes situações pelas quais as duas passaram, onde se manifestava a coragem e inteligência plena de Mary, eu me apaixonei por ela. Descobri que ela era também uma fascinante escritora. Suas escritas sempre eram entregues a minha avó, e foi dessa forma que li tudo o que Mary já havia escrito, despertando em mim cada vez mais fascinação por sua forte personalidade.




Certo dia, em um agradável passeio pelo parque, avistei sentada em um banco uma senhora que admirava a paisagem do lago e resolvi me sentar ao seu lado.
Depois de certo tempo conversando, comecei a perceber uma semelhança incrível no jeito daquela senhora com tudo o que eu almejava ser e fazer no futuro.
Passamos a nos encontrar todos os fins de semana naquele mesmo banco, e criamos uma bela amizade.




Passado-se um bom tempo, minha avó chegou ao seu leito de morte, e como último desejo, ela pediu para que eu pegasse uma carta que estava guardada e disse que se algum dia encontrasse Mary, que eu deveria entregar-lhe a carta.
Nunca pensei que um dia algo assim fosse acontecer, então abri a carta e a li:


"Querida Mary,
Quero que saiba que nunca te esqueci.
Sei que tivemos nossas diferenças e que isso nos afastou. Mas espero que um dia, você ainda me perdoe pelos meus erros.
Agora, em meu leito de morte, quero dizer-lhe que espero muito o dia em que nos encontraremos na eternidade. Enquanto isso continue aí, sentada em nosso banco a beira do lago, onde nunca pude estar contigo.


Com amor,
Sophie"


Nesse momento, lágrimas escorreram pelo meu rosto e foi então que senti meu coração pulsar, pensando que tinha criado uma forte amizade com Mary. Todo esse tempo, eu conversei todos os fins de semana com a pessoa que eu mais admirava.


Fui correndo para o parque esperando encontrar Mary, sentada no banco, como em todos os domingos.
Não a encontrei. Havia em seu lugar um papel e um livro sobre o banco.
Peguei o papel e li:


"Querida amiga,
Hoje não pude estar contigo, me desculpe.
Precisei partir hoje cedo e não sei se voltarei um dia.
Sua amizade será eterna e sempre me lembrarei desse sorriso lindo que você tem.
Deixo aqui uma pequena lembrança. Um livro que escrevi há tempos, mas que nunca consegui entregar a minha melhor amiga. Então, e com carinho que dou ele a você, já que acho que se identificaria muito com ele.


Adeus, Com amor,
Mary Emily."


Com mãos tremulas peguei o livro. Intitulado "Inesperadas Amizades" e dedicado "A todos aqueles que um dia conheci e que não tive a oportunidade de dizer 'obrigada pela companhia'."


FIM!

Aqui foi meu primeiro conto galera. Obrigada pela atenção.